Três cantoras de porte da MPB lançam disco nesse fim de ano, com resultados variados.
A primeira delas é a nova menina-prodígio da MPB, e protegida de Caetano Veloso, Maria Gadú, que explodiu no cenário musical em 2009 com seu disco auto-entitulado. Desde então, havia muita expectativa sobre o sucessor. Gadú foi pra Portugal gravar com Marco Rodrigues – um dos fadistas da nova geração – compôs em inglês e espanhol e conseguiu uma participação especial de Lenine. O resultado disso tudo está em “Mais Uma Página do Mesmo Livro”, lançado essa semana no Brasil. Infelizmente, essa página não acrescenta muito ao repertório de Gadú.
O disco é morno e as músicas não se sobresaem. Onde em seu primeiro disco ela esbanjava personalidade e criatividade musical, nesse Gadú retrocedeu - escondeu-se atrás da poeta, recitando versos ao som da guitarra (fado demais?). Muito bonito, bem produzido e arranjado, mas longe do fogo e exuberância exibidos em seu trabalho de estreia. Onde em seu disco de 2009 ela fazia uma cover incendiária de “A História de Lily Braun” de Chico Buarque e Edu Lobo, aqui ela transforma “Amor de Índio” de Beto Guedes numa romaria interminável. “Oração ao Tempo”, de autoria de Caetano Veloso, já virou tema de abertura da novela das seis, mas não acrescenta nada às várias versões já feitas para essa música. No material próprio, Gadú usa o dadaísmo poético do tio Caetano, mas acaba se levando a sério demais. Em inglês ela é ótima e sua voz “Cássia Eller” combina perfeitamente com seu sotaque yankee.
O que tem de bom: Linha Tênue, Long Long Time
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O disco novo de Maria Rita, "Elo", sofre de muitos dos mesmos males que o de Gadú. Aqui também a energia é baixa, Maria Rita tendo optado por uma série de arranjos jazzísticos lentos que se confundem entre si. Aqui também a produção e os arranjos são esmerados, com vocais cristalinos e competentes, mas em músicas sem um quê especial. Esse é o primeiro álbum de Maria Rita em 4 anos desde seu último (“Samba Meu”) e soa como compromisso contratual (o que aparentemente foi). O disco tem várias regravações: ela desfigura “Menino do Rio” (mais uma de Caetano), depena “A História de Lily Braun” de Chico Buarque e Edu Lobo – que Gadú já tinha feito tão bem e há pouco tempo – e consegue fazer Djavan e Rita Lee soarem chatos. Vamos esperar que o novo projeto de Maria Rita, interpretando a obra de sua mãe Elis Regina, tenha um pouco mais de paixão e energia.
O que tem de bom: Coração em Desalinho (também tema de abertura de novela)
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A outra Maria, a Maria da Graça Costa Penna Burgos, também conhecida como Gal Costa, foi a mais arrojada das 3, ainda que tenha mais de 40 anos de carreira que as duas “novatas”. O que faltou de inventividade às suas jovens colegas, Gal e Caetano (quem mais?) trouxeram à rodo para "Recanto". Sim, o novo disco de Gal Costa é baseado em batidas eletrônicas, mas não espere por nada muito dançante. O disco é dark, meio sinistro, com a voz de Gal iluminando por onde passa, como uma lanterna num quarto escuro. Caetano escreveu letras líricas e mordazes, algumas de suas melhores dos últimos tempos (“Neguinho compra 3 TVs de plasma, um carro GPS e acha que é feliz”) e Gal cantando funk tá bombando.
Mas vai ser difícil ela entrar numa trilha de novela. As músicas são um tanto inacessíveis devido ao experimentalismo digital com sons dissonantes e excesso de barulhos e interferências eletrônicas que muitas vezes distraem da voz de Gal. É como se no desejo de fazer Gal soar futurista, Caetano e Kassim (o outro produtor, que também ajudou Caetano a perder alguns fãs com “Cê” e “Zii e Zie”), acabaram indo longe demais na mesa de efeitos. Mas quando Caetano deixa a voz de Gal ficar em primeiro plano, como em “Mansidão”, uma electro-bossa nova, seu canto continua a encantar e fascinar e até transcender a tecnologia. Os resultados finais são mistos, mas pontos pra Gal por se arriscar a fazer algo diferente e pra Caetano, por continuar sendo Caetano.
O que tem de bom: Neguinho, Miami Maculelê, Sexo e Dinheiro, O Menino
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